O edifício da Tipografia Barata é do século XVIII, com uma implantação em forma de L; a quando do início da sua reabilitação revelava a textura urbana medieval da cidade ao mesmo tempo que refletia as diferentes apropriações que foi tento ao longo dos tempos.
As fachadas da Rua do Comércio e da Rua Mestre de Avis revelavam um edifício simples, onde se observava a substituição das cantarias na maioria dos vãos por moldurados de argamassa, sendo os ornamentos exclusivos às guardas das varandas em ferro, elemento decorativo relevante na imagem do edifício.
A fachada da Rua D. António da Costa apresentava contudo cantarias em pedra que para além de significar um elemento de reforço estrutural denúncia a qualidade do edifício é uma escala grandiosa.
O débil estado de conservação verificado não permitiu recuperar a estrutura existente, com excepção de certos elementos que revelam o carácter excepcional que o edifício tem no seu interior. São eles os arcos, a escada principal em pedra e os azulejos, "azulejos do juncal", de grande valor patrimonial.
No piso da entrada é possível observar a utilização de arcos em pedra e em tijolo maciço como técnica construtiva, os quais foram preservados bem como as paredes mestras que os suportam.
A escada em pedra é o acesso principal à zona habitacional funcionando não só como meio de comunicação mas de igual modo como um elemento de grande expressividade decorativa, conferindo ao átrio uma imagem nobre. Os azulejos nela existentes são referenciados como "azulejos do juncal" datados do final do século XVIII bem como os outros painéis que se encontraram no edifício, representando cenas da vida rural e decorados nas cores verde, vinoso e azul (Os painéis de azulejo estão devidamente catalogados no livro de Maria Filomena Martins Azulejos do Juncal, páginas 162-163 e páginas 169-175).
A especificidade desta intervenção tomou assim em especial relevância os elementos anteriormente descritos a par da geometria do lote e consequentemente da sua relação com os diferentes alçados que o compõem.
O programa reflectiu a manutenção de comércio no R/C e de habitação nos restantes pisos (preponderante à revitalização dos centros históricos) e em termos formais a intenção de diferenciar o novo do velho, em consonância com as diferentes épocas em que são idealizados, de acordo com a Carta de Veneza.
O projecto procurou um desenho interior que apesar de condicionado pelos alçados existentes possibilitasse condições de habitabilidade actuais e em simultâneo uma diversidade de vistas, quer do interior para o exterior como dentro do mesmo apartamento, com a introdução de um pátio que interligasse zonas distintas do mesmo fogo em virtude das diferentes cotas que aproveitam a diferença altimetria das fachadas.
Do logradouro existente que separa o edifício intervencionado do confinante, concluiu-se que apenas existiam vãos no primeiro sendo que as janelas apresentavam boas condições à entrada de luz e de ventilação. De modo a permitir a sua limpeza e manutenção das fachadas interiores foi criada uma porta de serviço numa das lojas do R/C.
O andar adicional recuado conforma a ligação da mansarda existente ao mesmo tempo que permitiu o seu acesso através dos espaços comuns do edifício, apoiado por um terraço exterior.
A fixação de actividades económicas como o comércio aliada à introdução de novos habitantes estabelece assim um reconhecimento do espaço em questão, adaptado às exigências de uma vida contemporânea.